Falando de Dakar – 02

RALLY DAKAR, VOLTANDO A SER RALLY DAKAR

Quando você pensa em Rally Dakar, qual imagem vem a sua cabeça? Um carro fazendo uma curva tipo WRC, cruzando um fundo atoleiro ou no topo de uma duna? Tenho certeza que 99% ficou com a terceira opção, afinal o Rally Dakar sempre teve na sua principal característica as especiais de deserto, onde não era raro se ver os ponteiros cavando para conseguir sair dos trechos mais arenosos. Porém a edição de 2017 fugiu a essa característica, sem ter o deserto do Atacama como parte do seu roteiro e tendo nas especiais programadas com areia, ou trechos cancelados ou trechos molhados, deixando de ter as dificuldades das areias fofas e das dunas imensas como seu repertório. Fato esse que foi muito criticado por competidores e seguidores do Rally Dakar.

A ASO, empresa que organiza o Dakar, tratou de correr atrás do prejuízo e preparou para a edição comemorativa de 40 anos, um roteiro para até os maiores especialistas em dunas, terminarem o rally com areia dentro das sapatilhas. Serão 9 dias, entre os 14 previstos, com presença de dunas e trechos arenosos. Sendo assim não precisa ser nenhum grande especialista para prever que o rali se decidira no deserto.

Nos 5 primeiros dias no Peru, as especiais serão praticamente 100% em trechos fora de pista, ou seja, em trechos sem estrada definida, onde a navegação é na sua maioria por CAP (indicações de grau de bússola) e os perigos não estão nos Road books e sim onde seus olhos conseguirem enxergar. As areias do AtacamaPeruano costumam ser fofas e com armadilhas escondidas, quando você menos espera, cai dentro de um funil de areia e lá se vão preciosos minutos. Destaco para essas especiais no Atacama a do quarto dia, onde os quatro carros largarão por vez, alinhados lado a lado em trecho de praia, na sequencia dessa largada que mais parece corrida maluca, terão dezenas de quilômetros de dunas.

O sexto e o sétimo dia, serão de chegada e saída de La Paz na Bolívia, onde será o dia de descanso, apesar de longos, devem ser dias de especiais mais simples e em estradas, lembrando que o sétimo dia é a primeira perna da etapa Maratona, ou seja, no final desse trecho os veículos não terão suas equipes de apoio para fazerem as manutenções, apenas pilotos e navegadores poderão fazer os reparos, usando o que levarão de peças reservas e ferramentas.

O oitavo dia e segunda perna da maratona, terá nas dunas e na altitude seus principais ingredientes, mais de 3500 metros de altitude, deixam os mais potentes motores V8 com performance de “milzinho”…. Imagine cruzar dunas assim… sem potencia alguma. Dia bom para os motores turbos, isso se as turbinas resistirem.

Já o nono dia, até para os competidores se recuperarem, será um dia tranquilo com trechos rápidos.

Décimo e décimo primeiro dia, serão na famosa região argentina de Belen e Fiambalá, um dia cavando naquelas areias, com a mão queimando de tão quente, tive uma certeza – existe inferno na terra e é lá. Se os dias estão quentes as areias são fofas e dificílimas de transpor, temperaturas acima de 42 graus são normais por lá, agora se a sequência de dias são de chuvas, tudo lá se alaga e nessa situação é provável que as especiais tenham cortes. Eu aposto que ao final da especial de Fiambalá já saberemos quem vence a edição 2018 do Rally Dakar.

Seguindo, teremos um dia longo na décima segunda etapa, com muitos rios secos, isso se não chover. Já a décima terceira etapa será decisiva para quem estiver ainda brigando por resultados, o trecho curto com as dunas cinzentas de San Juan, seguidas dos trechos do WRC Argentino na chegada a Córdoba, serão os últimos momentos de disputa, pois a etapa seguinte e ultima dessa edição terá pouco mais de 100 quilômetros e não deve reservar nada em especial.

Em resumo eu diria que as duplas que disputarão as primeiras posições nessa edição, serão as mais habilidosas e experientes em desertos, na leitura de dunas e navegação por CAP, com certeza quem mais treinou nessa situação não vai se arrepender. Aos menos experientes, preparem suas pás, levem muita água e não hesitem em murchar bem os pneus. Pois nessa edição o Rally Dakar, volta a ser Rally Dakar.

Youssef Haddad
Spinelli Racing

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