Caio Bonfim é campeão mundial nos 20 km em Tóquio e amplia feito histórico
Raniere Macias 20 set 0

Ouro em Tóquio, uma semana depois da prata

Perdeu a aliança no caminho e ganhou o ouro no fim. Aos 34 anos, Caio Bonfim venceu os 20 km da marcha atlética no Mundial de Atletismo de Tóquio com 1h18min35s e assinou uma das maiores atuações da carreira. O título veio apenas sete dias depois de ele ter levado a prata nos 35 km, no mesmo campeonato. É a confirmação de um ciclo de alto nível que já tinha mostrado força com a medalha de prata nos 20 km na Olimpíada de 2024.

O resultado em Tóquio consolida o brasileiro como referência global na prova. O tempo de 1h18min35s não é seu recorde pessoal — ele baixou a marca para 1h17min37s em fevereiro de 2025 —, mas mostra controle tático e físico em um cenário de pressão. Numa modalidade em que detalhes técnicos e cartões de advertência decidem destinos, Bonfim caminhou com eficiência, acelerou no momento certo e administrou a vantagem nos quilômetros finais.

Houve ainda um ponto fora da curva no meio do percurso: a aliança de casamento escapou do dedo durante a prova. O episódio não desconcentrou o brasileiro, que manteve o ritmo e cruzou a linha de chegada com folga. A cena humaniza a vitória e reforça o quanto a marcha é uma prova de cabeça fria, além de resistência.

Com este ouro nos 20 km e a prata recente nos 35 km, Bonfim chegou a quatro pódios em Mundiais de Atletismo, somando-se aos bronzes de 2017 e 2023. É uma coleção rara para o esporte brasileiro e um sinal claro de longevidade competitiva. Paralelamente, ele sustenta o posto de número 2 do ranking mundial dos 20 km, posição construída com constância de resultados e bons índices nas principais pistas e ruas do circuito.

Carreira, números e impacto

Carreira, números e impacto

Nascido em 19 de março de 1991, o brasiliense construiu uma trajetória de melhora contínua. O quarto lugar na Rio 2016 avisou que havia algo grande por vir. Vieram os bronzes nos Mundiais de 2017 (20 km) e 2023 (20 km), a prata olímpica nos 20 km em 2024 e, agora, o ouro mundial nos 20 km e a prata nos 35 km em Tóquio. No meio do caminho, ele reescreveu os recordes nacionais em diferentes distâncias da marcha, incluindo os 20 km, hoje com a melhor marca pessoal de 1h17min37s.

O contexto familiar ajuda a entender essa consistência. A mãe, Gianetti Bonfim, também foi marchadora da seleção brasileira. Em casa, a marcha nunca foi só um esporte: virou rotina, método e vocação. Isso transparece na técnica limpa, na leitura de prova e no cuidado com a disciplina — traços fundamentais em uma modalidade que pune qualquer desvio de regra.

A marcha atlética é diferente de tudo que o público costuma ver no atletismo. O contato com o solo deve ser contínuo e a perna de apoio precisa ficar estendida até a passagem do tronco. Três advertências significam desclassificação. Por isso, vencer em alto nível envolve administrar esforço, hidratação e técnica, principalmente quando a prova esquenta no trecho final. Foi exatamente o que o brasileiro entregou em Tóquio.

O feito também tem peso simbólico. Em um país que costuma brilhar mais em provas de velocidade e salto — vide Fabiana Murer e Alison dos Santos, campeões mundiais em seus eventos —, ver a marcha no centro do palco amplia o alcance do atletismo brasileiro. Bonfim vira vitrine e referência para uma nova geração que hoje treina em pistas públicas e ruas, muitas vezes longe dos holofotes.

Principais resultados de Caio Bonfim em eventos globais:

  • Ouro – 20 km, Mundial de Atletismo 2025 (Tóquio) – 1h18min35s
  • Prata – 35 km, Mundial de Atletismo 2025 (Tóquio)
  • Bronze – 20 km, Mundial de Atletismo 2017
  • Bronze – 20 km, Mundial de Atletismo 2023
  • Prata – 20 km, Jogos Olímpicos 2024
  • 4º lugar – 20 km, Jogos Olímpicos Rio 2016

Os números contam a história, mas o presente diz ainda mais. Bonfim compete com maturidade, escolhe bem as mudanças de ritmo e chega ao fim com reserva de energia — sinal de treino bem calibrado e estratégia clara. No circuito internacional, essa combinação é rara. Em Tóquio, o brasileiro traduziu isso em ouro.

Agora, a missão é manter o corpo são e a cabeça no lugar. A temporada de um marchador é longa, com viagens, variações de clima e exigência técnica constante. Quem chega a setembro competitivo precisa administrar microciclos de treino, prevenção de lesões e recuperação entre provas. Bonfim domina essa engenharia do rendimento — e é por isso que, aos 34 anos, vive a melhor fase da carreira.