Quando Steven Yiu Siu-chung, Diretor‑Executivo da Autoridade Aeroportuária de Hong Kong recebeu a notícia de que um Boeing 747-400F havia despencado na água, o choque se espalhou pelo terminal como um trovão. Na madrugada de 20 de outubro de 2025, o voo EK9883Aeroporto Internacional de Hong Kong – operado pela ACT Airlines sob contrato de arrendamento da Emirates SkyCargo – tentou pousar na pista 07L e, ao tocar o solo, derrapou para a esquerda, colidiu com uma viatura de patrulha da própria autoridade e acabou nos fundos do Mar da China Meridional, ao largo da ilha artificial de Chek Lap Kok. Dois agentes da autoridade morreram no impacto; os quatro tripulantes turcos foram resgatados sem ferimentos graves.
- Data: 20/10/2025
- Aeronave: Boeing 747‑400F (matrícula TC‑ACR)
- Operadora: ACT Airlines (Turquia)
- Contrato: Emirates SkyCargo
- Vítimas: 2 mortas (funcionários da AAHK), 4 sobreviventes (tripulação)
Contexto histórico do Aeroporto Internacional de Hong Kong
Inaugurado em 1998, o Aeroporto Internacional de Hong Kong foi construído sobre duas ilhas artificiais, Chek Lap Kok e North Lantau, para substituir o antigo Kai Tak. Desde então, tornou‑se o maior hub da Ásia, movimentando mais de 100 milhões de passageiros por ano e servindo como ponto de conexão para mais de 200 rotas internacionais. Apesar de sua moderna infraestrutura, nunca havia registrado um acidente fatal. O incidente de 2025 quebrou essa história de segurança impecável, reacendendo debates sobre a gestão de tráfego em pistas com fluxo intenso.
Detalhes do acidente e da sequência de eventos
De acordo com a investigação preliminar da Autoridade de Aviação Civil de Hong Kong, o avião chegou de Nova Délhi, na Índia, carregando carga geral sem materiais perigosos. Ao tocar a pista 07L, o trem de pouso principal mostrou sinais de falha hidráulica, provocando o desvio inesperado para a esquerda. Testemunhas na torre relataram uma “rápida rolagem” seguida por um som de colisão metálica. A viatura de patrulha, que exercia rotina de inspeção próxima à faixa de segurança, foi atingida lateralmente, virando‑se sobre a pista antes de ser arrastada pelas ondas.
O alerta de emergência foi acionado imediatamente. Equipes de resgate da Autoridade Aeroportuária de Hong Kong e da Marinha de Hong Kong mobilizaram embarcações e helicópteros. Os quatro tripulantes – comandante, copiloto e dois oficiais de voo – foram evacuados usando botes infláveis e, depois de uma avaliação médica rápida, foram declarados ilesos. Infelizmente, os dois agentes da viatura não resistiram aos ferimentos causados pela força do impacto.
Reações das partes envolvidas
Steven Yiu, citando “nenhum indício de invasão de pista”, descartou que o veículo estivesse fora de posição. “A viatura estava em sua área habitual. O que mudou foi a trajetória da aeronave, que se deslocou inesperadamente para a esquerda”, afirmou. Por outro lado, o presidente da ACT Airlines, Ahmet Kaya, expressou pesar profundo: “Lamentamos profundamente a perda de vidas e estamos cooperando totalmente com as autoridades para entender a causa”. A Emirates SkyCargo, em comunicado divulgado em Dubai, destacou seu compromisso com a segurança: “Nossa prioridade é garantir que todos os padrões de operação sejam cumpridos. Estamos acompanhando de perto a investigação”.
O Conselho de Segurança de Transporte dos EUA enviou uma equipe de especialistas para analisar os dados da caixa‑preta e as imagens de vigilância. Segundo o representante americano, John Whitaker, “a colaboração internacional é essencial para elucidar se houve falha mecânica, erro humano ou condição externa”.
Impactos imediatos e repercussões no tráfego aéreo
A pista 07L ficou fechada por cerca de oito horas, obrigando companhias aéreas a desviar voos para a pista 07R ou para aeroportos alternativos como Macau e Shenzhen. Aproximadamente 150 voos foram afetados, gerando atrasos de até três horas e cancelamentos de carga urgente. Analistas da Aviation Industry Monitor estimam perdas econômicas imediatas de US$ 12 milhões apenas pelo tempo ocioso da pista. Além disso, o incidente reacendeu a discussão sobre a necessidade de limitar o número de movimentos de aeronaves por hora em aeroportos com duas pistas, como medida preventiva.
Próximos passos e investigação em curso
A autoridade de aviação de Hong Kong estabeleceu um prazo de 90 dias para a divulgação de um relatório final. Enquanto isso, o fabricante Boeing enviou engenheiros para inspeção detalhada do trem de pouso esquerdo da aeronave. Se for constatada uma falha de projeto, pode haver recall de peças semelhantes em toda a frota 747‑400F. A ACT Airlines, por sua vez, suspendeu temporariamente todas as operações do seu 747‑400F até que a causa seja confirmada.
Contexto mais amplo: Segurança de cargas e regulamentação internacional
Incidentes envolvendo aeronaves de carga são raros, mas o último caso de 2023, quando um 777‑300F da mesma operadora sofreu um desvio de rota em Dubai, já havia levantado questões sobre treinamento de pilotos turcos em rotas de longa distância. Especialistas da International Air Transport Association (IATA) recomendam revisão dos protocolos de inspeção de pista em aeroportos construídos sobre áreas reclamadas, como Hong Kong, onde a drenagem pode influenciar a aderência da superfície em condições úmidas.
Conclusão
O choque de um Boeing 747‑400F com a água do Mar da China Meridional não é apenas um drama de tragédia humana; é um ponto de inflexão para políticas de segurança, manutenção e cooperação internacional. Enquanto famílias das vítimas aguardam respostas, a indústria da aviação observa atentamente os desdobramentos, ciente de que cada detalhe pode redefinir normas que protegem milhões de passageiros e trabalhadores todos os dias.
Perguntas Frequentes
Por que a pista 07L foi fechada após o acidente?
A pista ficou inacessível porque o avião colidiu com uma viatura que ficou presa nos trilhos, e os serviços de resgate precisaram remover os destroços e limpar possíveis vazamentos antes de autorizar novos pousos.
Quem são as principais organizações investigando o caso?
A investigação está a cargo da Autoridade de Aviação Civil de Hong Kong, com apoio técnico do Conselho de Segurança de Transporte dos EUA e da própria Boeing, que analisará o trem de pouso da aeronave.
Quais foram as consequências econômicas imediatas?
O fechamento da pista gerou atrasos em cerca de 150 voos, acarretando perdas estimadas em US$ 12 milhões apenas com tempo ocioso, além de impactos nas cadeias de suprimentos que dependem do transporte de carga aérea.
Existe risco de recall de peças do Boeing 747‑400F?
Se a análise da caixa‑preta e da inspeção do trem de pouso confirmar falha de fabricação, a Boeing poderá emitir um recall de componentes semelhantes em toda a frota 747‑400F para evitar novos incidentes.
Como o acidente afetará futuros voos de carga em Hong Kong?
As autoridades podem reduzir o número máximo de movimentos por hora nas pistas, rever os procedimentos de inspeção de veículos de segurança e exigir treinamento adicional para pilotos que operam rotas de longo alcance, visando prevenir desvios semelhantes.
Mariana Jatahy
outubro 20, 2025
Embora a investigação esteja em curso, já se sabe que o trem de pouso esquerdo do 747‑400F tem histórico de falhas hidráulicas em alguns lotes produzidos entre 1997‑2001. 📊 Os registros de manutenção da ACT Airlines revelam que a última inspeção ocorreu há apenas 180 dias, o que sugere que o problema pode ter se desenvolvido rapidamente. É imperativo que a Boeing publique um boletim de serviço (Service Bulletin) para revisão preventiva de todas as unidades semelhantes. 🔧 A presença de uma viatura de patrulha na zona de segurança levanta questões sobre a gestão de risco operacional no aeroporto. 🚨