Quando Edward Snowden, ex‑funcionário da NSA, trouxe à tona o funcionamento interno da ferramenta X‑Keyscore, o mundo percebeu que quase tudo que fazemos online pode ser capturado em tempo real. A revelação, feita em documentos vazados em 2013, mostrou que o programa não exige autorização judicial nos EUA – basta um clique de um analista para ativar o monitoramento. O que torna tudo ainda mais assustador é a presença de servidores da NSA em território brasileiro, próximos a Brasília, que coletam e analisam dados de brasileiros e estrangeiros de passagem pelo país.
O que é o X‑Keyscore e como funciona
O X‑Keyscore é, em termos simples, um mecanismo de big data que varre bilhões de pacotes de informações diariamente. Ele captura e‑mails, mensagens de redes sociais, histórico de navegação e até metadados como endereços IP e tipo de dispositivo. Segundo a própria apresentação da NSA, o sistema possui entre 500 e 700 servidores Linux distribuídos em 150 locais ao redor do globo. Cada ponto de coleta opera como um olho digital, filtrando o que a agência define como “comportamento anômalo”.
Um exemplo clássico: se um usuário da internet, normalmente acostumado a usar português brasileiro, começa a pesquisar termos ligados a grupos terroristas ou a empregar criptografia pouco usual, o X‑Keyscore imediatamente o destaca como suspeito. Essa lógica de detecção baseada em mudanças de padrão tem sido comparada a um termômetro que dispara ao menor sinal de febre. O documento não revela o algoritmo exato, mas indica que a identificação ocorre em questão de minutos.
Escala global e presença no Brasil
O mapa divulgado pela NSA mostra pontos técnicos em lugares tão distantes quanto Kuwait, Japão e Canadá. Um desses sites fica dentro da região metropolitana de Brasília, indicando que a coleta de tráfego de internet brasileiro está em pleno funcionamento há anos. Essa informação só veio à tona graças às divulgações de Snowden, que apontou que, ao contrário do que o governo dos EUA afirma, a NSA não precisa de mandado para vasculhar comunicações privadas.
Além da infraestrutura física, a NSA conta com parcerias de telecomunicações. O programa Verizon, citado em documentos do programa PRISM, fornece acesso direto a servidores que armazenam milhões de chamadas e dados de navegação. A combinação de PRISM e X‑Keyscore cria um ecossistema quase total de vigilância, capaz de cruzar informações de diferentes fontes para montar perfis detalhados de usuários.
Impacto nas relações Brasil‑Estados Unidos
As revelações provocaram um choque diplomático entre os dois países. Em junho de 2014, o então vice‑presidente americano Joe BidenDilma Rousseff sobre o programa de monitoramento da NSA. Biden descreveu a conversa como “franca e sincera”, mas o próprio ato de discutir espionagem gerou desconforto.
Como consequência direta, a visita de estado planejada para outubro de 2013 foi cancelada. Rousseff, que já havia criticado publicamente a prática de vigilância em massa, decidiu não viajar a Washington, alegando “preocupações sobre o respeito à soberania digital”. Essa decisão marcou a primeira vez que um presidente brasileiro adia uma visita oficial ao país devido a questões de cibersegurança.

Reações de especialistas e da sociedade civil
Especialistas em direito digital, como a professora Claudia Lima da Universidade de São Paulo, apontam que a existência de servidores da NSA em território nacional pode violar a Constituição, que garante a inviolabilidade das comunicações. “Precisamos de uma legislação robusta que obrigue transparência e controle judicial”, ela disse em entrevista ao The Guardian.
Organizações de direitos humanos, como a Amnesty International, lançaram campanhas pedindo ao Congresso brasileiro a criação de um marco regulatório capaz de limitar a interceptação de dados sem prévia autorização judicial. A pressão popular aumentou nas redes sociais, com hashtags como #PrivacidadeJá ganhando milhões de impressões.
O futuro da espionagem digital
Enquanto o debate legislativo se arrasta, a tecnologia avança. O X‑Keyscore, embora já tenha ajudado a capturar “mais de 300 terroristas”, segundo a própria NSA, está em constante aprimoramento. Analistas acreditam que a próxima geração incorporará inteligência artificial para prever ameaças antes mesmo de elas se manifestarem, o que pode elevar o risco de falsos positivos.
Para Snowden, a solução passa por uma combinação de criptografia forte, uso consciente de VPNs e, sobretudo, pressão internacional por normas globais de privacidade. “A vigilância em massa não desaparece; ela apenas se adapta”, ele escreveu em entrevista concedida à imprensa, enquanto permanecia confinada no aeroporto de Moscou, aguardando decisão russa sobre seu pedido de asilo temporário.

Pontos-chave do vazamento
- O X‑Keyscore monitora e-mails, redes sociais, histórico de navegação e metadados.
- Possui entre 500 e 700 servidores Linux espalhados por 150 locais, incluindo um próximo a Brasília.
- Funcionários da NSA podem usar a ferramenta sem aprovação judicial.
- Mais de 300 terroristas foram presos com base em dados coletados pelo sistema.
- As revelações provocaram a suspensão da visita de Estado de Dilma Rousseff aos EUA em 2013.
Perguntas Frequentes
Como o X‑Keyscore coleta dados no Brasil?
Através de um servidor localizado próximo a Brasília, a NSA intercepta tráfego de internet que passa pelas redes locais. Isso inclui e‑mails, mensagens de aplicativos e visitas a sites, tudo sem necessidade de ordem judicial.
Quais são as consequências jurídicas para o Brasil?
Ainda não há uma legislação específica que regule a atuação de agências estrangeiras em território nacional. Contudo, especialistas sugerem que a Constituição pode ser invocada para contestar invasões de privacidade, e projetos de lei estão em tramitação no Congresso.
O que a NSA diz sobre os números de terroristas capturados?
A agência afirma que, graças ao X‑Keyscore, mais de 300 indivíduos ligados a organizações terroristas foram identificados e apreendidos. Contudo, o método de atribuição desses números não é totalmente transparente.
Qual foi a reação dos EUA ao cancelamento da visita de Dilma Rousseff?
O governo americano classificou o cancelamento como “um resultado lamentável das tensões diplomáticas”, mas reiterou que a espionagem é parte das medidas de segurança nacional, pingando a relação bilateral.
O que pode fazer um cidadão comum para se proteger?
Utilizar criptografia de ponta a ponta em aplicativos de mensagem, recorrer a VPNs confiáveis e manter o software dos dispositivos sempre atualizado são medidas básicas que ajudam a reduzir a exposição.
Verônica Barbosa
outubro 7, 2025
É um ultraje que a NSA fure nossa privacidade e ainda ache que pode nos vigiar sem nenhuma punição.
Cinthya Lopes
outubro 7, 2025
Ah, que maravilha da modernidade: a NSA instalou um QG clandestino aqui perto e ainda tem tempo de analisar nossas memes. Se a tecnologia fosse tão avançada quanto eles se vangloriam, já estaríamos vivendo em um paraíso digital livre de governos. Em vez disso, somos espectadores de um show de horror tecnológico. Bravo, pessoal, realmente superaram a própria ficção científica.